renato de cara
Carta para Ulysses
Caro Ulysses,
É com muito carinho e cuidado que preservo nossa amizade.
Desde o dia em que você apareceu na Galeria Mezanino, em 2008,
apresentando suas gravuras e objetos, soube ali que você é um cara com
uma obra muito especial. O nome da coletiva era “Andando nas Nuvens,
41 Sonhos de Artistas”. Nada mais sintomático! Vi no seus desenhos,
acondicionados em um álbum de madeira produzido por você, um
encantamento e uma paixão pelo fazer.
As imagens cheias de linhas desconexas num primeiro olhar e o estojo
de madeira bruta, bem pesado, compunham o primeiro álbum com papéis
que conheci e que logo foi adquirido por gente que entende de arte.
Logo depois, vendemos uma nova caixa com trinta gravuras únicas para o
acervo da Pinacoteca do Estado de São Paulo. E tantas outras saíram com
o mesmo entusiasmo de quem as via.
Acredito que no mesmo ano vi suas pinturas, numa exposição individual
na Gravura Brasileira. Em uma pequena sala, um painel com muitos cães,
borboletas e detalhes de paisagens em pequenos formatos também me
encantaram. Quis logo saber delas, acreditando no quanto elas tinham de personalidade no gesto e na matéria.
A mistura de técnicas, como a xilogravura, a gravura em metal, a colagem
e o desenho, somam muito na hora de imprimir o seu discurso. E você
sempre afirmou: “a importância da obra não está na dimensão ou
tamanho do trabalho”.
O foco do interesse do artista sempre revela com quem estamos falando.
De você, entre cães, pássaros, navios, flores e amores, vemos uma alma
boa, talhada na inocência de um bairro pacato de São Paulo, com estudos
e técnicas aperfeiçoados na graduação e pós-graduação de universidades consagradas.
Resumindo, o privilégio em ser seu parceiro se traduz em seus sonhos
imagéticos: obras maravilhosas na minha coleção particular, além de tê-las
também no acervo da Mezanino, encontrando muita poesia e excelência
vindas de suas mãos e do seu coração.
Obrigado por estar perto de nós! Abraços
Renato De Cara